ERROR_396

Viagem_01_Parte_01

Ali estava eu, consertando a minha câmera com meu conhecimento de bons anos em uma escola técnica profissionalizante, descubro que uma bobina da minha câmera velha estava quebrada e precisava ser substituída, fui ao mercado livre para procurar a peça. Apenas um vendedor tinha a peça, quando eu vi o nome do vendedor eu ri, e fiquei preocupado ao mesmo tempo: Nikolas Tesla, achei que pudesse ser um golpista, e tinha uns comentários estranhos de compradores que avaliaram o produto: ”Usei na minha engenhoca e funcionou”. Eu achei bem bizarro, mas decidi comprar a peça dele mesmo assim, já que ele parecia ser confiável e tinha boas avaliações. Eu fiz o pedido na hora e esperei chegar junto a ansiedade dos tempos modernos.

Quando a peça chegou, eu desci e peguei com Elaine, a funcionária do prédio onde moro, me viro pra voltar para casa e quem me aparece? Josy, minha ex-namorada, veio buscar as coisas que ela deixou na minha casa. – Separou as minhas coisas que eu te falei? –. Esse problema com minha câmera me fez esquecer de fazer isso. 

– Desculpa Josy, acabei esquecendo, quer subir pra pegá-las e levar? – eu disse a verdade por preguiça de inventar uma mentira, e me arrependi um pouco. 

– Você acha que eu vou ficar procurando as minhas coisas no meio da sua bagunça? – disse ela, explodindo de raiva.

– Toda vez que eu vinha aqui ficava arrumando e limpando tudo! Acabou essa vida de empregada tá?! – ainda mais furiosa.

– Amanhã eu vou vir aqui de novo e se você não tiver separado vou fazer um barraco!! –. Eu ri de nervoso mentalmente:”Se isso não é um barraco, imagina o que será amanhã se eu não separar a coisas dela”. Ela se virou foi embora, e eu voltei para meu apartamento como se nada tivesse acontecido.

Chegando em casa, realmente, minha casa é uma bagunça, os livros, todos jogados no chão, copos em tudo quanto é lado, meus vídeo games fora da caixa, cada um em um canto diferente, pensei que tenho que dar um jeito na minha casa – e na minha vida também –, mas primeiro eu foquei em arrumar a câmera. Foram algumas horas desmontando, substituindo a bonina e finalizando o reparo, até que finalmente consegui ligar a câmera, ajustei o horário, mas para minha surpresa o número do erro que apareceu no display da câmera mudou: Apareceu o erro 396 no visorzinho de LCD.

Fiquei espantado com esse número de erro, nunca li sobre esse erro nos manuais de reparo de câmeras DSLR*. Eu fiquei perplexo, sem saber o que fazer, e pesquisei na internet, mas não encontrei nada que pudesse me ajudar. Cheguei até a perguntar nos velhos fóruns de fotografia:

Então tentei fazer tirar umas fotos com a câmera, fiz alguns testes e nada, apontei em meio a bagunça da minha casa e… bingo! O obturador da câmera acionou e tirou uma foto. De repente raios apareceram do nada, uma enorme tela surgiu na minha frente e me engoliu! Apareceram várias “janelas” que mudavam freneticamente como se estivesse voando dentro de um navegador de internet que ia mudando na medida que era jogado pra frente, paro em uma delas e estou em lugar que nunca vi sem entender o que está acontecendo, me viro e vejo o Monte Fuji. _ Que p… é esss…!

Viagem_01_Parte_02

“O que seria aquilo? Drogas?”- Não poderia ser, pois não havia usado nada. Me lembrei de um vídeo sobre sonhos lúcidos que eu havia assistido algum tempo atrás que dizia para tapar o nariz, se você conseguir respirar significa que você está sonhando, tapei meu nariz e não consegui respirar, ou seja, aquilo era real. Por algum motivo a câmera havia se teletransportado comigo para essa que parecia ser outra dimensão, li uma placa que estava escrito 箱根登山鉄道 que significa Estação de trem Ferrovia Hakone Tozan – a Josy, que é poliglota, me ensinou “Nihon Go”, tínhamos o sonho de viajarmos juntos pro Japão, mesmo que o sonho fosse mais dela do que meu –. Estava eu ali sentado atordoado e perdido, passei por uma loja que vendia revistas e jornais, e peguei um jornal: 1995年2月5日(2 de fevereiro de 1995). Fiquei paralisado, havia voltado no Japão em mais de 20 anos no tempo. – Sumimasen, shinbun o torimasu ka? – me pergunta a senhora que trabalhava na loja, eu entreguei o jornal e saí andando sem rumo, ela deve ter me achado um louco, e faltava pouco para eu chegar lá.

Algumas horas andando sem rumo e em choque, bateu uma fominha, fiquei babando na vitrine de uma vending machine, mas eu não tinha coragem de pedir pra alguém comprar pra mim, já que não tinha ienes para comprar, de repente uma garota com roupas de colegial japonês comprou um lanche que acabou ficando preso na máquina. – Kusô – resmungou ela, voltando a coloca outra moeda e escolhendo outro lanche, eu não sou de ficar furtando as coisas, mas no desespero, esperei ela ir embora e balancei a máquina até o lanche cair, me senti um ladrãozinho rs.

Já com a barriga mais cheia, comecei a pensar: “Se eu só tiver gelo, limão, açúcar e cachaça dentro de um lugar que eu não posso sair, eu certamente faria uma caipirinha, e das mais horríveis porque eu não sei fazer drink’s”. Testei minha câmera e estava tirando fotos, saí andando e tirando fotos, o que já foi um dos meus hobbies favoritos, numa viagem que eu faria isso o tempo inteiro, e teria tempo para enquadrar o melhor ângulo das fotos. “No futuro vão achar minha câmera e ficarei conhecido postumamente como um grande viajante no tempo”, pensava eu com um certo ar de desespero.

De repente apareceu uma muvuca, vários otakus vestidos de personagens de Dragon Ball, o que seria aquilo? – Sumimasen, koko de nani ga okotte iru nodesu ka? – perguntei pra um garoto vestido de Mestre Kame o que estava acontecendo ali. – É um evento de fãs de Dragon Ball em que vamos ter a presença de Akira Toriyama. – respondeu o garoto.

Nisso meu espírito jornalístico encarnou em mim, precisava presenciar isso, tentei entrar na festa e me pediram ingresso ou credencial, disse que havia esquecido no meu… vi um Honda Civic passando na rua e falei “Honda Civic” ao invés de simplesmente falar carro, a pessoa do controle de acesso achou esquisito, dei meia volta já desistindo, logo vi umas pessoa de crachá deixando ele dando sopa, estava escrito: 小次郎、プレス(Kojiro, imprensa), peguei com peso na consciência, isso seria meu grande feito nessa vida ingrata de jornalista.

Eu fui ao toilet, chegando lá olhei bem e estava o Akira Toriyama, pra não constranger ele, fui no mictório do lado oposto. – Aposto que uma nova viagem interestelar seria interessante para uma futura saga de Dragon Ball – eu disse já dando spoilers da saga GT. Imagina eu, co-criador de uma saga de DB. Akira Toriyama achou esquisito, mas respondeu: – Seria uma linha interessante para explorar, deixaria muitos personagens inativos, mas estamos começando a ter problemas com a quantidade de personagens, afinal eles podem ser ressuscitados com as esferas do dragão. – respondeu ele, rindo.

– Nossa, você é o Akira Toriyama, muito prazer! Eu me chamo Kojiro da revista de baixa veículação sobre heróis e universo geek “Poka Pika”. – disse eu, na eterna dualidade da vida de um jornalista, contando mentiras para chegar na verdade.

– Nunca ouvi falar dessa revista – ele me respondeu. 

– É uma homenagem ao Pikachu – inventei sem pensar muito.

– O jogo eletrônico de gameboy? – ele disse, me deixando numa saia justa.

– Sim, acreditamos que será um fenômeno no futuro – pra finalizar aquele ciclo de mentiras que se tornarão verdade num futuro próximo daquele tempo.

– Se não for te incomodar, teria 10 minutos para uma entrevista rápida sobre o futuro dos personagens da série? – perguntei. – Claro, será um prazer – ele respondeu. Saquei o smartphone do bolso, ele me perguntou o que era aquilo. – É um gravador do futuro – eu disse, com um sorriso no rosto e tentando não deixar ele ver a tela pra evitar uma fissão temporal, vi muito isso em filmes. Isso me ligou um alerta para não falar mais de coisas futuras, e somente nas sagas que estavam bombando naquele ano.

Eu: Akira Toriyama, é um prazer falar com você! Sou jornalista e um grande fã do seu trabalho, seu trabalho em si e o estilo dos seus desenhos são e serão únicos em toda e qualquer dimensão, assim como é o universo de Dragon Ball.

Akira Toriyama: (Risos)Obrigado! O prazer é todo meu.

Eu: Acredito que os multiversos são um dos elementos mais fascinantes da saga Z e quero entender como surgiu essa ideia em sua mente, o Trunks do futuro e as linhas de tempo é algo complexo de se lidar, fazendo com que a história passe a se tornar 2, 3, 4, até o infinito.

Akira Toriyama: A verdade é que essa ideia veio de uma discussão com meu editor na época. Estávamos discutindo a trama e como poderíamos mantê-la sempre fresca e interessante para os fãs. Foi quando meu editor sugeriu que talvez fosse legal se pudéssemos criar um universo paralelo, onde tudo seria diferente e ainda assim familiar. A ideia me intrigou e comecei a explorar a possibilidade de incluir vários universos diferentes na história.

Eu: E como você se preparou para criar universos tão distintos?

Akira Toriyama: Eu me diverti muito criando personagens e universos novos. Lembro que eu me preocupava em não fazer as coisas iguais, então, mesmo que um personagem parecesse um pouco com outro, tentei dar a eles personalidades únicas. E, quando se tratava de universos diferentes, eu brincava com a ideia de “e se”, como se pudéssemos jogar tudo em um pote e ver o que aconteceria.

Eu: E como isso afetou a trama principal da série?

Akira Toriyama: Bem, o legal é que eu tive a oportunidade de explorar diferentes possibilidades e, ao mesmo tempo, manter a história principal coesa. Por exemplo, com o universo alternativo de Trunks, pude introduzir um personagem que era muito mais forte do que todos os outros que havíamos visto até então e, com isso, estabelecer uma nova linha do tempo. Mas tudo ainda fazia sentido e não contradizia a trama principal.

Eu: E você já teve alguma ideia engraçada ou maluca que acabou descartando porque era “muito louca”?

Akira Toriyama: Bem, eu sempre tenho ideias malucas, mas algumas delas são realmente loucas demais até para mim! (risos) Mas eu acho que a beleza de criar um universo ficcional é que você pode ir tão longe quanto a sua imaginação permitir. E se uma ideia maluca realmente faz sentido dentro do contexto da história, então por que não? Eu acho que seria engraçado ver o Yamcha como o protagonista de uma história, mas eu não sei como ele seria capaz de salvar o mundo sozinho. Talvez ele precisasse de uma ajudinha do Goku e do resto da turma! (risos)

Eu: Akira-san, muitos fãs se perguntam sobre a relação de Vegeta e Bulma, afinal por algum motivo ela não ficou com seu parceiro de longa data(Yamcha) pra se casar com Vegeta. É uma coisa engraçada pensar que talvez eles só estejam juntos por causa da linha de tempo em que vivem. Se estivéssemos em uma dimensão diferente, você acha que eles ainda acabariam juntos?

Akira Toriyama: Bem, na verdade, eu acho que Vegeta e Bulma são uma ótima combinação, independentemente da linha de tempo. Mas, se estivéssemos em outra dimensão, quem sabe? Talvez Bulma tivesse uma queda por Kuririn, ou talvez Vegeta ficasse com outra pessoa, afinal ele preza muito pela família e sua linhagem saiyajin e isso se torna algo muito importante para o orgulhoso principe dos saiyajins ao longo da série. Nunca se sabe o que pode acontecer em um multiverso!

Eu: Verdade! E falando em outros universos, nós vimos uma versão alternativa de Trunks que voltou do futuro em Dragon Ball Z na saga Cell. Alguma chance de vermos uma versão alternativa de Vegeta ou Goku em breve?

Akira Toriyama: Ah, você nunca sabe! Eu adoro criar novas versões dos meus personagens. Talvez em outra linha do tempo, Vegeta seja o herói e Goku o vilão! Ou talvez Goku seja um saiyajin do mal e Vegeta seja o defensor da Terra. Eu gosto de brincar com essas ideias.

Eu: Isso seria bem interessante! E o que você acha sobre a ideia de um crossover com outras séries? Tipo, Dragon Ball conhecendo o universo de Naruto?

Akira Toriyama: O que é Naruto?

Eu: (Glup!!). Para finalizarmos, você poderia nos contar alguma curiosidade engraçada sobre a criação de Dragon Ball?

Akira Toriyama: Claro, tenho várias histórias engraçadas sobre isso! Uma delas é que, quando eu estava criando o personagem do Goku, inicialmente eu o imaginei como um macaco gigante. Mas, depois de alguns rascunhos, decidi que ele seria melhor como um menino com cauda de macaco. Outra curiosidade é que, originalmente, eu planejava que a série durasse apenas até a luta contra o Freeza, mas depois decidi continuar a história. Acho que foi uma boa escolha, não acha?

Eu: (risos) Com certeza seria interessante ver como isso se desenvolveria. Bem, obrigado pelo bate-papo, Akira Toriyama! Foi uma honra conversar com você.

Akira Toriyama: O prazer foi meu! Arigatô

Antes de sair andando, Akira-san me pediu para esperar um pouco, quando voltou trouxe um pôster de DBZ, quase caíram lágrimas dos meus olhos, me senti realizado de uma maneira que a muito tempo não havia me sentido. De repente raios começaram a surgir do nada, minha câmera começa a flutuar, sou jogado pra dentro das janelas que formam o túnel do tempo e apareço dentro do meu apartamento.

Viagem_01_Parte_02

Logo que cheguei, confuso e extasiado com a viagem no tempo, e sem saber como voltei para o presente, toca o interfone: É a Josy está perguntando se eu separei as coisas dela, fiquei sem entender nada, olhei pro relógio e eram 10 da manhã do dia seguinte, mesmo estando no passado, o meu presente continuou indo para frente. Disse que é uma longa história, e fui buscar ela na portaria.

Abri a porta do condomínio e ela percebeu que eu estava sujo e descabelado, logo ela esbravejou como um samurai com uma espada afiadíssima pronta pra me cortar em pedacinhos. – Saiu ontem? Tá todo sujo e fedido, já vi que vou ter que subir pra pegar minhas coisas! – disse, furiosa o.O’. Fechou a cara, fomos em direção a elevador, silêncio, entramos no elevador, penso:”Já tá tudo ruim mesmo, vou falar o que aconteceu” – Eu fiz uma viagem no tempo ontem, fui pro Japão no ano de 1995, foram só algumas horas, mas deu pra ir tirar umas fotos e conversar com Akira Toriyama. – falei, sem medir consequências. – Você está delirando, drogado ou louco? – perguntou Josy, acostumada aos meus delírios, mas isso a deixou mais tranquila, pois eu sabia que ela apreciava os seus devaneios. 

Enquanto estávamos “caçando” as coisas dela nas minhas montanhas de bagunça, ela encontrou um livro de viagem para o Japão com a foto do Monte Fuji na capa. – Olha, é onde eu estive ontem! –, digo, apontando para a foto do Monte Fuji. – Eu fui lá e tirei algumas fotos incríveis. Você não vai acreditar. – digo, extremamente entusiasmado.

Josy olhou pra mim desconfiada, havia um sonho enquanto estávamos juntos de fazer essa viagem juntos, coisa que nunca aconteceu, mas acho que ela desejava isso tanto quanto eu. Continuamos separando as coisas e fui me perdendo nas lembranças, de como nós costumávamos conversar sobre as estrelas, e como eu queria ser um astronauta quando era criança, e por isso sempre gostava de abrir rádios e brinquedos para consertar e aprender o seu funcionamento acreditando que ia construir um foguete um dia. Eu tinha acabado de voltar de uma viagem no tempo que nem sabia como aconteceu. É engraçado como a vida funciona às vezes…

Finalmente terminamos de achar todas as coisas, digo que se achasse mais algo eu a avisaria. Ela me olhou nos olhos sorridente, diferentemente da pessoa que queria me matar uma hora atrás, e disse: – See You Cowboy!** – Dei uma risadinha, pois entendi a referencia, mas me contive aos “bons momentos” que passamos, ela saiu do meu apartamento e seguiu seu rumo como deve ser.

Olhei algumas fotos, exausto pela viagem, nem tinha dormido ainda, e percebi que a primeira foto que eu tirei, logo após consertar a câmera era do livro de viagens que a Josy levou com a imagem do Monte Fuji. “É um bom começo para uma teoria maluca” – pensei, entusiasmado. Mas antes precisava de algumas boas horas de sono, pois estava exausto.

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*Estilo de câmera digital que usa um sistema de espelhos para visualizar a foto.

**Referencia ao Cowboy Bepop, animação em que os personagens viajam pelo espaço em busca de recompensas.

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